Domício Proença

Projeto Andrews 90 anos

Rio de Janeiro, 14 de junho de 2007

Entrevista com Domício Proença

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Onde e quando o senhor nasceu?

 

DP: Nasci no Centro do Rio de Janeiro, sou carioca da gema, da ilha de Paquetá. Lá vivi minha infância e adolescência, fiz o Jardim de Infância e o Curso Primário completo, só não fiz o secundário porque não havia, fui então para o Colégio Pedro II.

 

Quem foram seus pais?

 

DP: Meu pai era enfermeiro. Começou como guarda-vida em Copacabana e depois fez Enfermagem. Minha mãe era, como todas as mulheres da época, dedicada ao lar. Tão logo eu nasci eles se radicaram em Paquetá.

 

Quando o senhor estudou no Colégio Pedro II, o senhor continuou morando em Paquetá?

 

DP: Fui interno durante sete anos. O Pedro II é um dos responsáveis por toda a minha formação. Eu só saía de lá aos sábados, passava o domingo em casa e voltava na segunda-feira.

 

Como o senhor decidiu seguir a carreira de Letras?

 

DP: Como eu era o primeiro aluno da turma, na segunda série ginasial comecei a dar aulas para os meus colegas da primeira série, como explicador. Esse foi meu primeiro salário. O salário era o que corresponderia hoje a R$ 100,00 por mês. Eu tinha 12 anos na época.

 

O senhor dava aula de todas as matérias?

 

DP: Não, só Latim e Português. Eu não sabia o que seguir de carreira. Minha mãe queria que eu fosse militar, mas eu não queria. Eu tinha um professor excepcional, Romário Teles da Silveira. Ele me apresentou a Faculdade de Filosofia, e disse que meu caminho era aquele.

 

Quando o senhor entrou para a Faculdade Nacional de Filosofia?

 

DP: Em 1949. Entrei na faculdade de Letras e no segundo ano já estava dando aulas no Colégio Mallet Soares e em cursinhos pré-vestibular.

 

Quando o senhor se formou?

 

DP: Em 1953. Logo fui chamado para ser assistente de professor na cadeira de Espanhol, depois passei para a cadeira de Português e Literatura. Quando estava no terceiro ano da faculdade, o assistente do diretor do Pedro II me falou para tirar meu registro provisório de professor, logo depois fui nomeado professor horista do colégio.

 

Qual foi o seu primeiro contato com o Colégio Andrews?

 

DP: Entrar para o Colégio Andrews foi uma opção curiosa. Quando os meus filhos chegaram ao ginásio, eu queria o melhor colégio, dentre os quais despontava o Andrews. Eu não queria para meus filhos um colégio de opção religiosa, embora seja católico. Só tinha uma saída: eu ia ser professor do Andrews e, com isso, ganharia a matrícula dos meus filhos.

 

Quantos filhos o senhor teve?

 

DP: Três. Eu só podia dar aula de Literatura. O Edgar arranjou um horário especial no sábado para minhas aulas. Com isso, meus meninos foram matriculados no Andrews. Só saí do colégio nos anos 1970. Primeiro, fui chamado para dar um curso na Alemanha, depois fui para a Faculdade com dedicação exclusiva e não dava mais para conciliar.

 

Qual o período que o senhor ficou no Andrews?

 

DP: Do final dos anos 1960 até 1971.

 

O senhor dava aula no Curso Clássico?

 

DP: Não. Eu dava aula no terceiro ano, pré-vestibular, só de Literatura. O Sérgio Nogueira dava  Português.

 

Você dava aula na Bolívar?

 

DP: Eu dava aula na Bolívar, depois fui para a Visconde de Silva.

 

O senhor destaca alguma coisa na orientação pedagógica do Andrews?

 

DP: O Andrews exercia certo rigor, dentro de princípios pré-estabelecidos, democráticos, liberais, mas com limites. Houve alguns episódios em que fui chamado e me mostravam que a orientação era muito cuidadosa, menos com o caráter pedagógico e muito mais com a orientação em função da tradição das famílias cujas gerações se multiplicavam no colégio. O colégio mantinha, até determinado momento, determinados parâmetros dos quais não abria mão. Posteriormente, acompanhando a dinâmica natural da sociedade, ele foi se abrindo para uma direção extremamente democrática.

 

O senhor atribui isso a uma mudança de direção no colégio ou à dinâmica da própria sociedade que o colégio quis acompanhar?

 

DP: Eu diria que a direção. A direção tradicional era a do Carlos Flexa Ribeiro, que tinha os seus padrões. Quando ele passou o bastão para o Edgar, o colégio ganhou uma nova perspectiva, fruto da mudança social. Isso abriu o colégio para uma dimensão ampla, sem perder a sua orientação pedagógica. O Andrews nunca foi um colégio de modismos. Havia uma preocupação muito grande com a qualidade do ensino. Tenho a impressão de que o colégio sabia que estava preparando lideranças, sabia que estava trabalhando com a classe A. Mesmo quem não fizesse parte dessa maioria, ascendia junto; o convívio dava a chance de ascender socialmente.

 

Seus filhos estudaram lá durante todo o período?

 

DP: O Júnior, o mais velho, fez o ginásio e depois saiu. O Adriano fez praticamente o colégio, e foi o primeiro colocado no vestibular de Engenharia.O Flávio também estudou lá, mas foi embora mais cedo. Ele faleceu. O colégio se solidarizou muito, a missa de sétimo dia foi lindíssima. Os colegas todos compareceram. Os meus filhos têm amigos do Andrews até hoje. Isso é uma coisa muito difícil num externato.

 

De uns tempos para cá muitas escolas fecharam. O que o senhor acha que o Andrews tem que resistiu ao tempo e está fazendo 90 anos em 2008?

 

DP: O Andrews criou uma aura, uma imagem que faz com que as gerações se sucedam. Os pais confiam no colégio, eles sabem que os filhos vão estudar no Andrews e os filhos dos filhos também. Muitas alunas diziam “minha mãe foi sua aluna”, mas no dia que disseram: “vovó foi sua aluna”, isso foi demais. Eu disse: “acabou para mim”.

Os alunos se identificam com a orientação do colégio, com o colégio, os professores se identificam com o colégio.

 

Qual foi a importância do Andrews em sua vida?

 

DP: Foi o colégio em que eu aprimorei meus caminhos didáticos e pedagógicos. O colégio me dava a chance de experimentar caminhos, aplicar novos métodos, nunca tive nenhuma restrição.  Além disso, ele contribuiu muito para a formação de meus filhos.

 

Quando o senhor se aposentou?

 

DP: Depois de 40 anos de magistério, me aposentei na UFF em 1993.

 

Quando o senhor entrou para a Academia Brasileira de Letras?

 

DP: Em 2006. A entrada para a Academia torna você mais visível, ela tem uma aura, queiramos ou não. A Casa é muito boa, é um lugar de amigos.

 

Muito obrigado, professor, pelo seu depoimento.

 


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