Maria Lúcia Dahl

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Maria Lúcia Dahl

Rio de Janeiro, 1 de outubro de 2007

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Onde e quando você nasceu?

 

ML: Nasci em Botafogo em 1941 na casa que hoje funciona o Colégio Andrews, na rua Visconde de Silva 161.

 

Quem foram seus pais?

 

ML: Meu pai era arquiteto, Mário Pinto, e minha mãe, Regina Pinto, era dona de casa.

 

Onde você fez seus primeiros estudos?

 

ML: Fiz o primário no Colégio Sion. Depois minha irmã foi expulsa desse colégio, meu pai ficou danado e me tirou também. Nós fomos para os colégios Princesa Isabel, São Fernando e fui fazer o Clássico no Andrews.

 

Em que ano você entrou no Andrews? Fale um pouco dos seus professores e de seus colegas.

 

ML: No final dos anos 50. A minha primeira ideia de colégio era o Sion. Era aquela disciplina completamente fora de tudo. O que tinha a favor era o ensino muito bom, um dos melhores. Eu me lembro muito de um professor de latim que a gente chamava de caveirinha. Tinha um professor de geografia que era casado com uma das irmãs Marinho, que era muito legal. O colégio tinha um pátio enorme onde ficava todo mundo conversando, as turmas do Científico com as do Clássico. Eu tinha vários amigos lá: o Carlos Roberto Flexa Ribeiro, os Sauer, meus primos; fiz grandes amizades no Andrews. Pessoas que eu voltei a encontrar como a Maria Marta Alves de Souza, filha do embaixador, que passei anos sem ver e agora estamos sempre em contato; Sônia Ramalho, que foi morar em Londres e eu nunca mais vi; Hélio Macedo Soares, que morreu há pouco; Sebastião Lacerda; Zózimo; Renato Machado; Ari Coslov. Eles eram da minha turma, mas naquela época eles não eram meus amigos. Eles eram os primeiros da classe, estudiosos. Eu já não era, ficava fofocando no fundo da sala com minhas amigas; depois fiquei muito amiga deles. Tinha os namoros também. Nos encontrávamos no bar tomando uma bebida que se chamava Ginja cola. Depois que acabavam as aulas, íamos para a praça em frente ao colégio e continuávamos conversando ali no monumento em homenagem a Miguel Couto. O primeiro fora que levei de um namorado foi ali nessa praça, na frente do colégio inteiro. Ele tinha uma namorada fixa e também me namorava. Um dia ele marcou encontro comigo na praça e chegou lá com a namorada. O colégio inteiro sabia que ele ia fazer isso comigo porque ele tinha contado que a namorada tinha dado uma decisão nele. Então, ficou todo mundo olhando a minha cara. Eu peguei um ônibus sozinha e fui para a casa em Copacabana.

 

Você se formou quando?

 

ML: Não me lembro. Eu fui para a PUC fazer filosofia.

 

Você acha que o colégio teve alguma influência nessa sua escolha?

 

ML: Não. A maior influência foi de uma professora do São Fernando, Anita.  Eu adorava filosofia e fui fazer na PUC. Fiz um pouco e depois fui para a Europa onde fiquei por um tempo. Fui chamada para ser atriz. Fui fazer um filme porque me casei com um cineasta. Eu nunca pude imaginar ser atriz. Fiz Menino de engenho, em 1964. Depois comecei a fazer um trabalho atrás do outro e parei de estudar.

 

Qual foi a importância do Colégio Andrews em sua vida?

 

ML: As amizades que fiz lá, que mantenho até hoje, e uma liberdade bacana, colocada certa, nem demais, nem de menos.

 

Você se lembra de algum fato engraçado ou curioso que ficou marcado dessa época do Andrews?

 

ML: Eu sei que era muito divertido. Eu sempre detestei acordar cedo, mas acordava feliz da vida para ir ao Andrews. Gostava do uniforme. Eu me lembro dessas pessoas do Científico que era outra ala. E o ensino era muito bom.

 

De uns tempos para cá muitas escolas fecharam, o que você acha que o Andrews tem que está resistindo ao tempo e vai fazer 90 anos em 2008?

 

ML: Acho que é esse tipo de ser moderno, mas com limites certos. Eu vejo isso até hoje porque meu neto de sete anos estuda lá. Eu vejo que existe um respeito no colégio, eles sabem administrar isso muito bem. As crianças hoje têm a mesma educação que a gente teve.

 

Você vê diferença na educação da sua época para a época do seu neto?

 

ML: Não. Vejo no recreio todo mundo brincando. De repente meu neto diz: “vovó não posso chegar atrasado, não posso falar isso, não posso vestir isso”. Mas não é se queixando, é com orgulho, ele está ali e estão cuidando dele. Ele fica orgulhoso de estar ali naquele colégio que é enorme, que tem futebol, piscina, e que era a minha casa.

 

Queria que você falasse um pouco disso. Como foi essa relação de sua casa virar o colégio?

 

ML: A primeira vez que fui lá pensei que ia morrer. O Carlos Roberto me levou lá, mas eu não conseguia entrar. Ele então me perguntava antes de entrar em um cômodo o que era. Eu descrevia tudo. Estava igualzinho, quer dizer, a casa foi toda reformada, mas o jardim era o mesmo. Tem uma parte da casa que é a mesma, meu quarto. Eu falei para o meu neto que ele estava estudando onde antes era o galinheiro. A minha casa inteira ainda está lá, só que eles aumentaram. Tinha escada que eu morria de medo porque achava que tinha um fantasma atrás, ela escura e nós passávamos correndo por ali.

 

Você quer acrescentar alguma coisa?

 

ML: Fico muito feliz porque meu neto estuda no Andrews. Tenho outro neto de dois anos e vou fazer o possível para ele ir estudar lá. É um lugar que temos confiança. Sabemos que tudo estará no limite certo, tanto no ensino, como na educação, como no respeito, como no limite. Isso eu acho muito importante nos dias de hoje, porque acho difícil educar.

 

Muito obrigada pelo seu depoimento.

 


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