Mariza Leão

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Mariza Leão

Rio de Janeiro, 7 de abril de 2008

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Onde e quando você nasceu?

 

ML: Nasci no Rio de Janeiro em 27 de novembro de 1952.

 

Quem foram seus pais?

 

ML: Minha mãe se chamava Elsa, nascida em Bauru, tinha descendentes italianos e espanhóis. Meu pai, Lauro, nasceu em Manhuaçu, Minas Gerais, e tinha sangue libanês e índio.

 

Qual era a profissão deles?

 

ML: Meu pai era advogado e minha mãe era contadora formada, mas não exercia, era dona de casa.

 

Onde você fez seus primeiros estudos?

 

ML: No Instituto Astolfo Carlos, no Flamengo. Depois fui para o Andrews.

 

Você se lembra em que ano foi para o Andrews?

 

ML: Meus pais eram espíritas e não queriam que a gente estudasse em colégio religioso. Como nós morávamos no Flamengo, o Andrews surgiu como uma opção muito apropriada. Entrei no primeiro ano ginasial, na Praia de Botafogo. Eu sempre fui boa aluna, sempre tive facilidade de relacionamento. Então, muito rapidamente me senti acolhida no colégio. Gostava muito do ambiente físico da escola e da efervescência que tinha lá. Filhos de pais desquitados, pessoas com outras profissões. Um colégio menos careta. Uma galera agitada. Eu sempre fui muito agitada.

 

Quais professores foram mais marcantes para você?

 

ML: Quem mais me marcou foi o seu Zuza. O professor Maia me marcou muito, as aulas eram divertidíssimas, apesar de serem de Matemática. A Nizete, professora de História, muito incrível. A professora de Francês era muito engraçada. O professor Artur Sette, de Desenho. Eu odiava Desenho, tirava notas péssimas, tinha que colar tudo. As provas sempre eram feitas por uma colega nossa chamada Ana Blima, que depois me passava as respostas. Por mais que virasse a noite estudando, compasso e régua não era comigo.

 

Você se lembra da sala 11?

 

ML: Lembro, era a sala de castigo. Uma vez o cabeça, que era nosso colega Luiz Roberto do Nascimento e Silva, e eu fizemos uma zona na hora em que se cantou o hino do Brasil. Fomos para a sala 11 e fomos suspensos. Tinha o pátio, o lanche, a cantina, aquele espaço era mágico para mim. Foi uma época muito boa.

 

Depois você foi fazer o Clássico?

 

ML: Fiz o primeiro ano do Clássico em 1969. O que aconteceu depois foi que eu e umas amigas, Rosana Glat, Lia Gandelman, Dinah Palatinik, fizemos um grupo de estudo e começamos a ler A história da riqueza do homem de Leo Huberman. Era uma época de grande agitação política. Houve uma espécie de inquietude, algumas pessoas saíram do colégio. A Ana Blima e a Rosana foram para Israel. Eu tive vontade de sair da escola. Para espanto meu, resolvi ir para um colégio careta, que é o Santa Úrsula. Fiquei lá um ano. Depois fiz o Curso Hélio Alonso. Fiz vestibular e o curso de comunicação da PUC.

 

Quando você terminou a faculdade?

 

ML: Antes de me formar, já comecei a namorar o meu marido, Sérgio Resende, e começamos a querer fazer cinema. Eu fiz a faculdade sem tanto gosto, porque achava muito fraca. Especializada em generalidades. Eu comecei a focar em cinema. Quando estava no início da faculdade, fiz estágio durante um ano no Segundo Caderno do jornal O Globo. Eu tive uma formação acadêmica menos importante do que a minha formação profissional.

 

Você acha que o Andrews teve alguma influência na sua escolha profissional?

 

ML: No Andrews me interessei e aprendi História e Português. Essas duas matérias me influenciaram muito ao longo da vida. Uma provocação a uma inquietude no bom sentido. Algo que não era ir ao colégio para decorar. Ali tinha pólvora. Claro que era daquele momento, mas que o colégio sabia responder muito bem.

 

Seus filhos estudaram no Andrews?

 

ML: Sim. Maria, Tiago e Júlia fizeram o Ensino Médio lá.

 

Você sentiu muita diferença no ensino da época em que você estudou para a de seus filhos?

 

ML: Senti e acho que eles têm essa mesma visão, de um colégio que não foi tão estimulante. Apesar do teatro, a visão que eles têm do colégio não é tão positiva como a minha. O colégio não deu a eles essa sensação de ser provocador como foi para mim.

 

Qual foi a importância do Colégio Andrews em sua vida?

 

ML: Foi enorme. Eu conheci no Andrews um núcleo de jovens da minha idade, de realidades sociais diferentes, de famílias com perfis diferentes. A minha melhor amiga de vida, que é a Alcinda Salgueiro, eu conheci no Andrews. Até hoje continuamos como irmãs. Eu vinha de um colégio pequeno, onde todo mundo tinha mais ou menos a mesma cabeça. No Andrews, essa diversidade, essa pluralidade cultural foi muito importante. Conheci um núcleo de amigas judias que foi muito legal para mim. Aquilo era um mundo totalmente diferente do meu, foi muito interessante. Foi muito bom. Eu tinha uma família com um caminho muito uniforme e eu tinha um perfil transgressor. O colégio ampliou isso, me deu uma possibilidade positiva disso.

 

De uns tempos para cá muitos colégios fecharam, o que você acha que o Andrews tem que está resistindo ao tempo e vai fazer 90 anos em outubro de 2008?

 

ML: Tem instalações muito boas. Tem uma organização que satisfaz aos pais. É um colégio que tem um padrão. Isso é uma junção que dá ao Andrews um status positivo.

 

Houve algum fato engraçado ou curioso que ficou marcado para você daquela época?

 

ML: O professor Maia mandando fechar as janelas porque ele ia estudar ciências no corpo da dona Alcinda. A gente fazendo guerra de giz na sala. Fingir que estava doente para tomar melhoral. O clima do recreio era muito legal. Quando os meninos se desentendiam no colégio marcavam encontro no final da aula na rua Visconde de Ouro Preto. E nós, as meninas, íamos. Era divertido. Às vezes não tinha porrada nenhuma, era só balela. Lembro-me também da pizza maravilhosa de um botequim colado ao cinema Ópera. O pior de tudo para mim é que só podíamos ter oito atrasos por ano. Eu geralmente ia encontrar com a Alcinda na casa dela, e ela é uma pessoa atrasada. Era um problema, mas ao mesmo tempo dava uma tensão, um frisson. Foi muito boa essa época.

 

Dos colegas do Andrews, quem mais, fora a Alcinda, você mantém contato?

 

ML: Com a Lia Gandelman, com o Luís Roberto Nascimento Silva. Muito pouca gente.

 

Depois que você se formou você logo começou a trabalhar em cinema?

 

ML: Comecei como diretora, montadora e roteirista de curtas metragens. A partir daí comecei a produzir alguns curtas e logo descobri que gostava muito. A partir dos anos 80, eu produzi meu primeiro longa-metragem que foi Até a última gota. Fiz uns 15 filmes até agora, entre eles: O sonho não acabou, O homem da capa preta, Doida demais, Lamarca, Guerra de Canudos, Quase nada, Onde anda você, Nunca fomos tão felizes, Noite, Romance da empregada, Lili, a estrela do crime, Perigosa obsessão, O cobrador e Meu nome não é Johnny. Eu me dediquei à produção, que é, ao contrário do que todos pensam, algo extremamente criativo. Hoje tenho uma produtora, a Morena Filmes, que existe há 33 anos, fazendo sempre cinema.

 

Você esteve uma época dirigindo a Rio Filmes, não?

 

ML: Eu abri a Rio Filmes na época do Marcelo Alencar e fiquei lá um ano. Mas a vida pública é incompatível comigo. Eu tomo decisões muito rápidas e o serviço público é muito burocrático.

 

Muito obrigada pelo seu depoimento.

 


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