Salvadora

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Salvadora/Professora

Rio de Janeiro, 10 de julho de 2007

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Onde e quando você nasceu?

 

SALVADORA: Nasci em 1939, no Rio de Janeiro.

 

Quem foram seus pais?

 

SALVADORA: Meu pai era professor da Universidade Rural, entomologista, foi uma das pessoas que me levou a ser professora. Eu escolhi Biologia porque, de certa forma, estava ligada ao que ele fazia.

 

Onde você fez seus primeiros estudos?

 

SALVADORA: No Colégio Anglo-Americano, quando funcionava na Avenida Atlântica. Fiz todo o meu curso lá. Eu sempre fui nadadora e uma vez, numa competição, eu tive que optar entre nadar pelo colégio ou nadar pelo clube ao qual eu pertencia. Obviamente, eu escolhi o clube porque no colégio eu estudava, no clube eu praticava esporte. Eu sempre fui uma boa aluna. Quando chegou o final do ano, o colégio não quis aceitar a minha matrícula. Eu fiquei muito triste. Meu pai foi na secretaria do colégio e disse que eu não ficaria mais lá e que iria para o Colégio Andrews. Eu reclamei muito porque adorava o Anglo-Americano. Depois eu me formei e acabei indo lecionar no Andrews, que foi a minha segunda casa, foi meu segundo lar. Eu me emociono sempre quando falo do Colégio Andrews. Lá eu vivi os melhores momentos da minha vida.

 

Quando você se formou no Colégio Anglo-Americano?

 

SALVADORA: Na década de 50.

 

Depois você entrou para qual faculdade?

 

SALVADORA: Faculdade Nacional de Filosofia, que funcionava na Avenida Presidente Antônio Carlos.

 

 

 

 

 

Fale um pouco sobre essa época de faculdade.

 

SALVADORA: Essa época foi dividida em duas etapas. Eu fiz o vestibular mentindo em casa. Foi uma das primeiras e únicas vezes que menti. Meu pai, como era professor, não queria que eu fosse professora, ele queria que eu fizesse Medicina. Naquela época, o vestibular era em um só dia para todas as carreiras, e eu fiz a inscrição na Faculdade de Filosofia e na Faculdade de Medicina. No dia no vestibular, em vez de ir para a Faculdade de Medicina, eu fui para a Faculdade de Filosofia, fiz o vestibular de História Natural e passei. Depois contei para meus pais. Pensei que eles iam brigar muito comigo, mas aceitaram bem. Nessa época, eu já estava namorando e fiquei noiva. Fiz dois anos de faculdade, tranquei a matrícula e fui para Brasília, depois para Pires do Rio, interior de Goiás, daí para Martinópolis, onde meu filho mais velho nasceu. Voltei depois para o Rio de Janeiro. Quando meus filhos fizeram sete anos, meu marido disse que tinha prometido ao meu pai que eu iria acabar a faculdade. Voltei para a faculdade, tive que fazer uma série de adaptações, mas consegui terminar no tempo certo. Estudava muito, mas adorava.

 

Quando você se formou?

 

SALVADORA: Eu me formei pela Faculdade Nacional de Filosofia em 1967. No ano seguinte eu comecei a trabalhar no Colégio Ateneu Brasileiro, que hoje é a Universidade Celso Lisboa. Fiquei lá durante algum tempo. Cheguei a ser paraninfa de turma lá. Foi uma experiência muito boa porque eu era muito nova. Depois trabalhei no Colégio Brasil que depois se transformou no Colégio Princesa Isabel. Eu coloquei meu filho para estudar no Andrews porque meu marido estudou lá. Certo dia, numa reunião de pais, meu marido falou com o Edgar Azevedo que eu era professora de Ciências. O Edgar falou que o colégio estava precisando de uma professora de Ciências porque o professor que dava essa matéria ia sair no meio do ano. Fui chamada. Quem me entrevistou foi o professor Aluísio. Ele me fez uma série de perguntas. Uma delas era se eu tinha domínio de turma. Eu respondi: “olha professor, uma coisa que eu não admito é falta de respeito, eu gosto muito de ser amiga de meus alunos, mas quero que eles me tratem com respeito assim como os trato com respeito também”. Eu sei que ele gostou da minha conversa porque me chamou. Isso foi em julho de 1971. Eu trabalhei na Praia de Botafogo.

 

Você pegou que turmas?

 

SALVADORA: O primeiro e segundo ginasial. Fiquei lá uns tempos. Um dia o Edgar Flexa me chamou e disse: “Salvadora, nós vamos começar uma experiência na Visconde de Silva e eu gostaria que você começasse essa experiência lá.” Ia mudar a nomenclatura, ia passar a se chamar quinta e sexta séries. Eu aceitei e fiquei nos dois lugares. Com isso, pedi demissão de todos os outros colégios porque eu comecei a dar aula de manhã na Visconde de Silva e de tarde na Praia de Botafogo.

 

Na Praia de Botafogo você dava aulas em que séries?

SALVADORA: Eu trabalhei na Praia com quinta, sexta e sétima séries. Na Visconde de Silva eu comecei com quinta e sexta, e depois fiquei com quinta, sexta e sétima também. Eu dava aula de Ciências. Cada vez eles foram me oferecendo mais turmas na Visconde de Silva. Acabei ficando com uma carga horária imensa, 11 turmas. Dava 33 tempos por semana. Trabalhei no Andrews entre Visconde de Silva e Praia de Botafogo durante 30 anos. Em 1993 eu me aposentei e não tive vontade de parar de trabalhar. Mas eu conversei com o Edgar e disse: “não vou ficar mais o tempo inteiro no colégio, eu quero voltar a nadar, eu vou trabalhar no turno da manhã, à tarde vou fazer minha natação”. Fiquei com esse horário de 1993 a 2001. Comecei então a sentir que a natação estava me absorvendo muito, estava viajando muito com a natação inclusive para fora do Brasil. Eu não podia faltar ao colégio, resolvi e pedi demissão com o coração muito apertado. Foram exatamente 30 anos de Colégio Andrews. Eu comecei em agosto de 1971 e trabalhei até julho de 2001.

 

Você pegou diferentes direções a frente do colégio, havia alguma diferença entre elas?

 

SALVADORA: As pessoas são diferentes, mas acho que o Andrews tem uma tradição, então ele segue uma linha em que ele não se afasta muito. É um colégio que tem certas normas. A única coisa que mudou um pouco foi a disciplina, mas isso não só no colégio, foi a garotada que mudou. Gosto muito do Edgar que, inclusive, é primo de meu marido. A mãe dele era prima irmã de meu sogro; Edgar sempre gostou muito de mim e eu dele. Pedrinho foi meu aluno, Ana Carolina foi minha aluna. Os filhos da Verinha foram meus alunos. Enfim, a Direção para mim é uma continuação. Eu peguei o Edgard Azevedo, depois ele saiu e entrou o Edgar Flexa. Ainda peguei o doutor Carlos vivo. Ele era uma pessoa muito simpática, muito agradável. Meu filho trabalha no Andrews até hoje, é professor de Educação Física.

 

Como era o seu relacionamento com seus colegas?

 

SALVADORA: Sempre muito bom. Eu sempre me dei bem com meus colegas. Alguns ainda me procuram até hoje, inclusive a Alba que ainda é professora de Português no Andrews. Estou sempre em contato com eles. Tem a Estela que é professora de Francês. O Colégio Andrews era durante um tempo e ainda continua sendo o meu segundo lar. Eu dizia para o meu marido: “eu passo mais tempo dentro do Colégio Andrews do que dentro de casa”. Era de segunda a sexta de sete da manhã às cinco da tarde. Quando eu parei, eu senti muito. Mas sabemos que chega uma hora em que é necessário parar.

 

E de seus alunos, você se lembra?

 

SALVADORA: Eles são a minha vida. Até hoje alguns estão em contato comigo. Teve uma família no colégio, os Barbosa Moreira (o pai é um advogado famoso), eram quatro rapazes, alunos de ouro. Eu costumava fazer um jogo entre meninos e meninas e no final do ano eu ia à loja do Nilton Santos comprar troféu e medalhas para eles. A recordação que eu tenho dos meus alunos é algo maravilhoso. Inclusive fico orgulhosa porque fui professora de muitos artistas: do Tarcisinho, filho do Tarcísio Meira, do Gabriel o pensador (eu até apareci no Fantástico com ele em 2000), da Drica Morais, da Renata Capucci.

 

Nesses 30 anos que você trabalhou no Andrews, você identifica fases diferentes?

 

SALVADORA: Eu acho que o Andrews está evoluindo muito, inclusive agora eu continuo acompanhando porque meus netos estudam lá. Eu acho que eles estão no caminho certo.

 

Você nota alguma diferença da época que você foi professora e agora que seus netos estudam no Andrews?

 

SALVADORA: Eu acho que a pesquisa é muito solicitada, inclusive por causa da internet. Antigamente, eram só os livros e, às vezes, livros caríssimos. Acho que a internet veio facilitar muito essa parte de pesquisa e as crianças gostam. Isso para mim foi outro desafio. Eu nunca tinha visto um computador na minha vida, mas resolvi aprender. Preparava todas as minhas provas no computador, fui das primeiras professoras da Visconde de Silva que aprendeu a mexer em computador.

 

Você destaca algum elemento na orientação pedagógica do Andrews diferente de outros colégios?

 

SALVADORA: A minha experiência em outros colégios não foi muito grande, mas a diferença é enorme. No Ateneu Brasileiro, era o Diretor apenas, não tinha orientação pedagógica nem educacional que eu me lembre. Eu fui entrar em contato com isso no Andrews. Na Praia de Botafogo a Talita foi a primeira orientadora pedagógica e a Luzia era a orientadora educacional. Trabalhar com elas foi maravilhoso. Depois veio a Marisa, que foi uma pessoa maravilhosa e que me ajudou muito na minha vida. Depois veio a Adélia Carregal, que também é uma pessoa fascinante.

 

Com essa nova geração na direção do Andrews, com a reunião de toda a escola na Visconde de Silva em 2001, você viu alguma mudança significativa nos rumos do colégio?

 

SALVADORA: Com a união na Visconde de Silva, acho que ganhou unidade. Isso integrou tanto aluno quanto professor.

 

De uns tempos para cá muitas escolas fecharam, o que você acha que o Andrews tem que resistiu ao tempo e vai fazer 90 anos em 2008?

 

SALVADORA: Acho que o Andrews tem tradição e o conceito de família. Os donos são uma família, todos unidos, todos se dão muito bem. Acho essa coesão muito importante. No Andrews, eles têm uma meta desde Mrs. Andrews e dona Alice Flexa Ribeiro. Se organizaram, mas nunca fugiram da tradição, de sua meta inicial. Acho mais importante ainda que os ex-alunos do colégio levam seus filhos para irem estudar lá, porque a lembrança que eles têm é muito boa. Os meus filhos estudaram no Andrews, os meus netos estão estudando. Isso é muito importante.

 

Qual foi a importância do Colégio Andrews em sua vida?

 

SALVADORA: O Andrews foi a minha vida. Eu tenho uma saudade muito grande. Eu não gosto nem de falar porque eu me emociono muito.

 

Você quer acrescentar alguma coisa?

 

SALVADORA: Quero dizer que desejo a eles toda a sorte do mundo e que  cada vez cresçam mais e se tornem melhores.

 

Muito obrigada pelo seu depoimento.


 


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