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Luiz Felipe Lampreia

Projeto Andrews 90 anos Entrevista com Luiz Felipe Lampreia Rio de Janeiro, 10 de março de 2008 Entrevistadora Regina Hippolito   Quando e onde o senhor nasceu?   LFL: Nasci no Rio de Janeiro em 19 de outubro de 1941.   Quem foram seus pais?   LFL: Meu pai, João Grace Lampreia, fez uma carreira de diplomata. Nasceu no rio em 1912 e morreu em 1985. Minha mãe, Maria Carolina Lampreia, de família carioca, morreu também no ano de 1985.    Onde o senhor fez seus primeiros estudos?   LFL: Como meu pai era diplomata, ele foi transferido para seu primeiro posto em Genebra quando eu tinha três anos. Fui alfabetizado em um colégio Suíço muito rigoroso, pequeno e exigente. Por exemplo, nós tínhamos que deixar o sapato na porta e calçar uma pantufa. O uniforme parecia um traje russo, uma espécie de uma bata preta com botões dourados. O posto seguinte do meu pai foi em Roma. Então, passei a estudar no liceu francês que se chama Châteaubriant, onde completei o primário. Eu vim para o Rio de Janeiro em 1951 e entrei para o Andrews, no Admissão. Entrei no meio do ano. O Andrews para mim foi mais do que um colégio. Foi uma espécie de introdução e aculturação ao Brasil. Eu tinha uma mentalidade e uma criação francesa, que é muito diferente da nossa. No começo, muitas vezes, eu fiquei surpreso.   Fale um pouco sobre a sua chegada ao Colégio Andrews?   LFL: O doutor Carlos foi muito generoso comigo. Ele tinha um escritório na frente da escola, na Praia de Botafogo, onde eu ia conversar. Ele foi muito cordial e gentil. Ao contrário dos diretores dos colégios suíço e francês, ele se chegou como se fosse da minha idade e de meu nível. As professoras também eram muito menos solenes e formais do que as europeias.   Você se lembra de alguma professora dessa época? Quais professores que mais marcaram?   LFL: Dona Lílian era professora do Admissão. Ela era muito intensa, falava sempre do Brasil com muito empenho. No Ginásio, um dos professores mais marcantes era o Carlos Shankrow Maia. Todo mundo se lembra dele. Era um personagem, uma figuraça; tinha o Cantuária, que era também um professor interessante; e o Osmar de latim. No Clássico, tinha um professor extraordinário, o Matoso Câmara, que era um sábio. E nós fazíamos as piores molecagens com ele. Era uma injustiça. Jogávamos tinta colorida na bata branca que ele usava, colocávamos ratinho branco dentro da caixa de giz. O Antônio Carlos, de História, também era um professor extraordinário, grande figura. O professor Vítor Nótrica, de Química, procurava desmistificar a Ciência e fazer dela algo abordável e não um bicho de sete cabeças como geralmente os professores faziam.   O senhor foi aluno da madame Jacobina?   LFL: Fui. Eu era um dos preferidos dela, pois tinha vindo de um colégio francês. Eu era muito prestigiado por ela.   O senhor chegou a participar das peças da madame Jacobina?   LFL: Participei muitas vezes das peças dela e da Sylvette, mas eu não tinha muito talento para o teatro.   O senhor se lembra de seus colegas?   LFL: Nessa fase do Admissão e do Ginásio, alguns colegas ficaram próximos de mim. Um deles é o Carlos Eduardo Neto, que depois entrou para a Marinha. Tinham alguns inclusive que vim a encontrar no Itamaraty. O Brian Michael Frase Nill,  que era conhecido entre nós como Bruno Miguel Frazão Nilo. Ele hoje é embaixador. A Júlia, que depois se casou com o ministro Mário Gibson Barbosa, até hoje me chama de colega. O Sérgio Werneck. E outros. Eu praticamente não mantive contato com nenhum deles, a não ser os que entraram para o Itamaraty. Houve um inclusive que morreu cedo o João Carlos Pontes de Carvalho. Na minha turma tinha ainda o Aluísio, que se tornou um jornalista marcante; a Katy, que se tornou uma pintora importante, o Carlos Alberto Fragoso, que agora vejo frequentemente, se tornou um empresário importante e o encontro com certa regularidade na Firjan.   O senhor se lembra de algum fato engraçado ou curioso dessa época?   LFL: Tinha momentos simpáticos no fim de ano, nas confraternizações com o nosso simpático porteiro, o Zuza. Nós fazíamos umas viagens. Até fomos uma vez a Brasília com a turma toda do Clássico. Tenho boas lembranças do Andrews.   Qual foi a importância do Andrews em sua vida?   LFL: Foi muito grande porque foi o único colégio do Brasil em que eu estudei. Depois que fiz o Primário e os dois anos no Ginásio, meu pai voltou para o exterior e me levou meio a força porque eu estava achando ótimo estar no Rio jogando futebol, namorando, indo a praia. Ele me obrigou a ir e depois eu reconheço que foi ótimo. Fiz os dois anos complementares do Ginásio em um colégio francês muito bom em Paris, 1955 e 1956, onde, aliás, curiosamente estudou o presidente atual da França Nicolas Sarkozi. Esses dois anos foram muito bons porque me deram uma base muito forte em Latim, em Francês, em Inglês e História. Isso me valeu muito depois, tanto para voltar para o Clássico do Andrews, quanto para o vestibular da católica e o concurso do Itamaraty, que fiz muito jovem, com menos de 20 anos, e nos dois passei em primeiro lugar. A combinação do colégio francês com o Andrews me deu uma base muito forte que me permitiu ter esse êxito logo na primeira vez que fiz esses dois vestibulares. Voltei ao Brasil e fiz os três anos do Clássico no Andrews, de 1957 a 1959.   O senhor fez vestibular para que?   LFL: Fiz para Sociologia na PUC. Fiz o curso com o Padre Ávila, o Artur Neiva. Foi um curso espetacular, maravilhoso.   O senhor chegou a completar o curso?   LFL: Não, porque no outro ano abriu, um pouco extemporaneamente, um concurso para o Itamaraty. Eu fiz esse concurso.   Quando o senhor entrou para o Itamaraty?   LFL: Em 1962. Cursei a PUC nos anos de 1960 e 1961. Tranquei minha matrícula e não voltei mais. Cursei o Instituto Rio Branco em 1962 e 1963 e entrei para a carreira no final desse ano.   De uns tempos para cá muitos colégios estão fechando, o que o senhor acha que o Andrews tem que está resistindo ao tempo e vai fazer 90 anos em outubro de 2008?   LFL: Vejo sempre com muita satisfação o grande movimento em frente ao colégio em Botafogo. E fui a algumas festas de comemoração. Eu não conheço bem o setor de educação, mas tenho a impressão de que o Andrews tem certa mística, tem um prestígio que é resultante de existir há muitos anos. Portanto, é uma referência. É uma escola tradicionalmente laica e mista. Isso na época era uma novidade. Os colégios normalmente eram religiosos e separados. No meu tempo do Andrews tinha muitos alunos judeus, muitos filhos de imigrantes sírio-libaneses e europeus, sempre foi muito plural. Eu acho que isso dá prestígio, não só a qualidade do ensino, como também essa diversidade, essa cultura. Hoje não é vantagem, mas tradicionalmente sempre foi acumulando referência. Eu acredito que escolher o colégio para matricular os filhos tem muito a ver com o que se viveu ou ouviu de amigos próximos. Acho que o Andrews consegue se manter e, se Deus quiser, vai chegar aos 100 anos.   O senhor quer acrescentar alguma coisa?   LFL: Não, só o prazer de participar dessa comemoração.   Muito obrigada pelo seu depoimento.  
Luiz Felipe Lampreia
90 anos do Colégio Andrews
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