Projeto Andrews 90 anos
Entrevista com Maria Martha Alves de Souza
Rio de Janeiro, 12 de abril de 2008
Entrevistadora: Regina Hippolito
Quando e onde você nasceu?
MMAS: Nasci no Rio de Janeiro no dia 27 de junho de 1940.
Quem foram seus pais?
MMAS: Wladimir Alves de Souza e Maria Adélia de Afonseca Alves de Souza.
Gostaria que você falasse um pouco sobre seu pai.
MMAS: Meu pai e Carlos Flexa Ribeiro foram criados juntos, como irmãos. Dona Alice, que era madrinha do meu pai e a quem chamávamos de vovó Alicinha, foi uma mãe para ele em Paris. Meu pai, meu tio, vovó Alicinha e o padrinho Carlos moraram em Paris durante a Primeira Guerra Mundial. Tenho desenhos e cartas de meu pai contando sobre o tempo em que ouviam as bombas ao longe. Eles retornaram ao Brasil em 1917, e meu pai fez parte da primeira turma do Colégio Andrews.
Quando você entrou para o Andrews?
MMAS: Em 1947. Eu tinha seis anos e meio. Estudei na unidade da Praia de Botafogo, em uma sala muito pequena. Das professoras, lembro especialmente da Mrs. Mary, de Inglês, e da mademoiselle Margot, de Francês, a quem chamávamos de “mademoiselle Amargot” ou “fantasma de pó de arroz”.
E de seus colegas, você se lembra?
MMAS: No início, não me lembro de muitos. Mais tarde, lembro-me da Júlia Blaquer Baldasarre, que hoje é a embaixatriz Júlia Gibson Barbosa. Também fui colega da Sônia Moreira. Lembro-me muito das professoras: dona Geni, no terceiro ano; dona Margarida, no quinto ano, que era um amor de professora. A dona Julieta, professora de canto, fazia a gente cantar solfejos. Eu não conseguia ler música, mas decorava e cantava pelo ouvido. Um dia, ela percebeu e me fez solfejar na frente da turma… foi um desastre total!
Eu sempre fui muito esperta, e os professores sempre bateram de frente comigo. Eu era boa aluna em música e em tudo que não envolvia números.
Você se lembra do professor Maia?
MMAS: Claro! Ele escrevia no quadro com as duas mãos ao mesmo tempo, era muito engraçado. Também me lembro do professor Mota Paes, que tinha cara de bravo, mas era um amor. O professor Assis, de Matemática, chamávamos de “caveirinha”. Dona Guilhermina, que ainda encontro hoje em dia, me colocou muito de castigo. Dona Margarida, professora de Português, me ensinou a fazer redação. Era minha professora do quinto ano. Repeti esse ano porque não passei no exame de admissão.
Como foi o seu curso Clássico?
MMAS: O que mais ficou marcado foi minha esperteza e as repetições de ano. Repeti o primeiro e o segundo ano Clássico, fui aos trancos e barrancos até terminar. No segundo ano Clássico, fui colega do Renato Machado e do Zózimo Barroso do Amaral. Tive um excelente professor de Português, Matoso Câmara. Também havia um professor de Geografia que era do Itamaraty e tinha vários livros publicados, mas não lembro o nome. O nível dos professores era excelente.
Você se lembra de algum fato engraçado ou curioso?
MMAS: No início do ginásio, quando eu tinha uns 13 anos, adorava voltar para casa de bonde. Um dia, houve uma enchente terrível, e fui a pé com meus colegas pela Rua São Clemente, com a água batendo no joelho. Tiramos os sapatos e seguimos até o Humaitá para pegar o bonde que nos levaria ao Leblon.
O professor Alcides Matias de Ataíde, de Geografia, era muito chato. Ele lia seu próprio livro durante a aula. Durante as provas, ficava sentado, e de vez em quando se levantava para pegar alguém colando. Se um aluno levasse um susto, ele sabia que estava colando. Um dia, eu estava colando com o livro aberto. Quando ele levantou, levei um susto e escondi o livro dentro da pasta de uma colega. Ele procurou e não encontrou. Disse: “curioso, dessa vez me enganei”. Eu saí da sala rindo, feliz da vida.
Seus filhos estudaram no Andrews?
MMAS: Não. Eles estudaram na Escola Americana por vontade do pai, que tinha ascendência inglesa. Mas eu teria colocado no Andrews sem dúvida nenhuma. Minhas lembranças do colégio são de muita alegria e muito estudo. Hoje vejo o quanto o Andrews foi fundamental para minha formação.
Você chegou a cursar alguma faculdade?
MMAS: Não. Me formei em Francês pela Aliança Francesa, aprendi Inglês por mérito próprio e estudei Alemão por vontade própria. Uma língua puxa a outra, e quem começou esse interesse foi a madame Jacobina, no Colégio Andrews. Também aprendi muito Latim lá.
Você ainda mantém contato com colegas do Andrews?
MMAS: Muito pouco. Eu me encontrava de vez em quando com o Luís Felipe Lampreia no Teatro Municipal. Trabalhei com o Renato Machado durante três anos em cursos que ele ministrava.
Qual foi a importância do Colégio Andrews na sua vida?
MMAS: Foi fundamental. Hoje trabalho como tradutora e intérprete. Trabalhei um tempo na Dell’Art e atualmente faço tradução de livros. Minha base de Inglês veio toda do Andrews, da Mrs. Mary. Sempre que encontro o Edgar, o Carlos Roberto e a Verinha, caímos nos braços uns dos outros. Fomos criados como primos, pois nossos pais eram como irmãos. O Colégio Andrews sempre foi minha segunda casa.
De uns tempos para cá, muitas escolas fecharam. O que você acha que faz o Andrews resistir ao tempo e completar 90 anos em 2008?
MMAS: Quando o padrinho Carlos saiu da direção do colégio, o Edgar Azevedo assumiu, mantendo uma linha de gestão baseada em princípios sólidos. Com o tempo, o Edgar Flexa foi assumindo mais responsabilidades e trouxe sangue novo para a administração.
O Andrews soube se modernizar, adaptar-se às mudanças nos uniformes e ao comportamento dos alunos sem perder sua essência. No nosso tempo, a disciplina era muito rígida, mas fazíamos muita bagunça – uma farra saudável. Hoje, como mãe e avó, vejo que o colégio estava certíssimo.
Muito obrigada pelo seu depoimento.

Maria Martha Alves de Souza
90 anos do Colégio Andrews