Projeto Andrews 90 anos
Entrevista com Sebastião Lacerda (Ex-aluno)
Rio de Janeiro, 4 de dezembro de 2007
Entrevistadora: Regina Hippolito
Onde e quando nasceu?
SL: No Rio de Janeiro, no dia 24 de junho de 1942, na Casa de Saúde Beneficência Portuguesa.
Quem foram seus pais?
SL: Carlos Frederico Werneck Lacerda e Letícia Abruzzini Lacerda.
Onde você fez seus primeiros estudos?
SL: Aprendi a ler e escrever no Colégio Melo e Souza. Depois fui para o Colégio Rezende, onde fiquei dois anos. Em seguida, estudei no Colégio São Bento, onde fiz o Admissão e o primeiro ano ginasial.
Repeti o segundo ano em 1954. Em 1955, após o golpe do general Lott, meu pai foi ameaçado e se exilou na embaixada de Cuba, depois indo para os Estados Unidos. Minha família foi encontrá-lo e fiquei com meu irmão Sérgio em um colégio até junho. Meus pais foram para Lisboa e nós voltamos para o Brasil em 1956. Iniciei o terceiro ano ginasial no Andrews em 1º de junho.
Você se lembra dos seus professores do ginásio?
SL: Sim, lembro da dona Julieta Strutt, professora de Canto, e da miss Perla Ciornai, professora de Inglês. No terceiro ano, recordo mais os colegas que me acompanharam até a faculdade, como Luis Eduardo da Gama e Silva, Jorge Eduard Taishows, Inah Sebrenick e Márcia Kuperman (hoje Márcia Barrozo do Amaral).
No quarto ano, conheci Zózimo Barrozo do Amaral, que foi meu amigo até sua morte.
Você foi aluno do professor Maia?
SL: Sim, no terceiro ano Clássico. Acho que ele lecionava Biologia. No primeiro ano Clássico, também conheci Renato Machado, que é meu amigo até hoje.
Como foi seu curso Clássico?
SL: Foi muito bom e divertido. O fato de ser um colégio misto me impactou bastante, pois havia uma grande diferença em relação ao São Bento. Foi uma época de convivência escolar muito rica e feliz. Fiz muitas amizades, como Renato Machado, Zózimo e Ari Coslov.
E seus professores do Clássico, você se lembra?
SL: Sim, lembro muito bem. O professor de Matemática, Jorge de Abreu Coutinho, e dona Marion, de Filosofia, que depois se casou com o professor Antônio Penna.
Antônio Carlos do Amaral Azevedo foi meu professor de História do terceiro ano ginasial até o fim do curso Clássico. Também tive aula com madame Jacobina.
Você participou das peças de teatro da madame Jacobina?
SL: Não, mas aprendi Francês com ela. Já havia feito dois anos de Aliança Francesa quando era menino, e ela me impulsionou ainda mais. Seu método era ultrapassado e antididático, mas funcionava.
Tive ainda o professor Olmar Guterrez da Silveira, excelente professor de Latim. No primeiro Clássico, tive Fábio Frexeiro, um grande professor que faleceu cedo. Ele lecionava no Instituto Rio Branco.
Naquela época, o Andrews disputava com o Santo Inácio a primazia nos vestibulares.
Qual vestibular você prestou?
SL: Direito. Naquela época, quem não tinha vocação específica ia para Direito.
Durante as férias, fiz algumas aulas particulares com o professor Junito Brandão, especialista em Português e Latim. Ele foi um dos maiores estudiosos de mitologia grega. Estudei apenas para o vestibular e passei em 32º lugar.
O Andrews reunia qualidades extraordinárias: liberdade sem exageros e excelentes professores.
Meu irmão Sérgio foi aluno de Joaquim Mattoso Câmara, um dos maiores filólogos do Brasil. Também tive professores renomados, como Miguel Ramalho Novo, temido professor de Matemática no Científico, Vera de Freitas, professora de Química, e Victor Nótrica, professor de Química no Clássico.
Naquele tempo, no segundo ano Clássico, estudávamos Física, Química e Filosofia, substituindo Espanhol. Com Victor Nótrica, fizemos a tradicional viagem a Volta Redonda, que valia como aula. A Química foi uma revelação para todos e, surpreendentemente, elegemos Victor Nótrica como paraninfo da turma – a única turma Clássica a homenagear um professor de Química.
Há algum fato engraçado ou curioso dessa época?
SL: Não há algo específico que eu me lembre com exatidão. O que mais marcou foi o clima do colégio, que era maravilhoso.
Qual foi a importância do Andrews na sua vida?
SL: Foi fundamental. O Andrews me mostrou que não era necessário um controle rígido dos alunos, pois tudo era ensinado com orientação e liberdade.
Se um aluno cometia um erro de educação, alguém explicava, em vez de puni-lo severamente. Raramente havia suspensões.
No terceiro ano Clássico, tive um professor que me impressionou muito. Suas aulas deveriam começar às 7h10, mas ele chegava entre 7h40 e 7h45. Mesmo com pouco tempo, dava aulas brilhantes sobre temas como o Congresso de Viena, a Revolução Francesa e a Europa Napoleônica. Esse professor era Eremildo Viana, que já era diretor da Faculdade Nacional de Filosofia.
O que guardei do Andrews foi o prazer de ir ao colégio. Nos primeiros anos, se houvesse um feriado, eu ficava chateado por não poder ir.
Qual faculdade você cursou e quando se formou?
SL: Estudei na PUC e me formei em 1966.
Como foi sua trajetória profissional?
SL: Primeiro trabalhei no jornal do meu pai, Tribuna da Imprensa, por pouco mais de um ano. Depois, fui para o escritório de advocacia do meu padrinho, onde fiquei dois anos.
Em seguida, fui para a Universidade de Yale, onde fiz um curso de literatura americana e outro ligado à Escola de Direito. Esse período despertou meu interesse por literatura americana.
Fiquei nos Estados Unidos por quatro a cinco meses e voltei ao Brasil em 1963. Trabalhei no gabinete do meu pai em 1964.
Fiquei noivo de Verinha e nos casamos em janeiro de 1965. Quando meu pai deixou o governo, fundou a Editora Nova Fronteira e uma financeira. Tentei trabalhar na financeira, mas não me interessava.
Então, comecei a trabalhar na editora e, desde janeiro de 1966, estou nela até hoje.
Muitas escolas fecharam nos últimos anos. O que faz o Andrews resistir ao tempo e completar 90 anos?
SL: O Andrews mantém uma tradição de bons professores e ainda preserva uma visão democrática. Isso era um legado do velho Flexa.
Já foi um colégio de elite, como todos, porque antigamente o acesso à educação era mais restrito.
Durante a gestão do velho Flexa no governo do meu pai, foram construídas mais de 700 escolas públicas, eliminando o déficit escolar no Rio de Janeiro.
Minhas netas estudaram no Andrews por um ano e adoraram. Isso mostra que o colégio mantém algo especial, um aspecto humano e próximo, seja dos professores ou orientadores.
O Andrews sempre foi um colégio muito bem organizado.
Muito obrigada pelo seu depoimento.

Sebastião Lacerda
90 anos do Colégio Andrews