Projeto Andrews 90 anos
Entrevista com Sérgio Eskenazi (Ex-aluno)
Rio de Janeiro, 25 de outubro de 2007
Entrevistadora: Regina Hippolito
Onde e quando você nasceu?
SE: Nasci no Rio de Janeiro em 6 de julho de 1954.
Quem foram seus pais?
SE: Meu pai foi José Eskenazi Pernidji, advogado, falecido em 2007. Minha mãe, Elizete Eskenazi Penidi, é do lar e está viva. Meu pai foi aluno do Andrews e minha mãe do Anglo-Americano.
Onde você fez seus primeiros estudos?
SE: Sempre estudei no Andrews. Foi o único colégio que frequentei.
Você se lembra do curso primário? Foi na Visconde de Silva?
SE: Fui da primeira leva de alunos da Visconde de Silva. Fiz o pré-primário na Praia de Botafogo, em 1960, e mudei para a Visconde de Silva em 1961 ou 1962, logo após sua criação. A Visconde de Silva era muito diferente do que é hoje. A casa ocupava apenas a parte central, e havia um grande terreno de terra batida com muitas árvores em declive, onde jogávamos bola. O grande desafio era definir quais times jogariam ladeira acima ou abaixo, o que fazia uma grande diferença no jogo.
E dos professores do primário, você se lembra?
SE: Sim, lembro da professora Olga e da professora Lia. Também da dona Julieta, professora de Música, que era muito temida por nós.
Como foi a ida para a Praia de Botafogo?
SE: Fui para a unidade da Praia de Botafogo no Admissão ou no quinto ano. A transição era vista como um ritual de passagem e um momento muito aguardado. Invejávamos profundamente os alunos que já estavam lá. Ao mesmo tempo que era emocionante, era assustador, pois os alunos mais velhos nos olhavam com superioridade.
Você tem alguma lembrança dos professores do Ginásio?
SE: Sim, lembro do folclórico e inesquecível professor Maia, de Matemática e Ciências. Também do professor Arthur Sette, de Desenho, e do professor Antônio Carlos, de História (mas acho que isso já era no Clássico). O professor Moraes, de Português, era muito severo. Seu filho, Denis, estudava na minha turma.
Você optou pelo Clássico? Como foi essa experiência?
SE: Sim, fiz o Clássico e foi uma experiência maravilhosa. Era um ambiente muito diferente, pois a maioria da turma era composta por meninas – cerca de 90% –, enquanto apenas 5% a 10% eram meninos.
No Clássico, tínhamos mais proximidade com a administração, o que nos dava certa liberdade e nos tornava quase um braço direito da escola. Organizávamos festivais de música ao longo do ano, o que era muito divertido.
E dos professores do Clássico, você se lembra?
SE: Sim, lembro do professor de Português, Ferreira, um ex-seminarista muito rigoroso, mas também engraçado. Formamos um grupo de amigos, incluindo Carlos Americano, Roberto Larra, Denis de Moraes e Joãozinho de Orleans e Bragança.
As meninas viam em nós uma espécie de proteção, e como tínhamos certa proximidade com a administração, ficamos mais ousados.
Também lembro do professor de Francês, Mr. Arditti, que infernizávamos bastante, e da professora Evelyn, de Inglês. O professor de História, Antônio Carlos, também era muito marcante.
Você teve aulas de Filosofia?
SE: Não, no meu tempo o currículo já havia sido reduzido. Latim e Filosofia não faziam mais parte das matérias obrigatórias. Estudávamos Francês, Inglês, História, Geografia e Moral e Cívica, esta última sendo vista como uma imposição dos militares.
Como vocês sentiram o golpe de 1964 no Andrews?
SE: O colégio sempre soube lidar com a situação de forma hábil. Havia pressão política, mas a escola tentou minimizar isso ao máximo. Os professores eram intelectualmente independentes, mas tomavam cuidado, pois nunca sabiam quem estava na plateia. No entanto, não havia um clima ostensivo de repressão.
Você foi aluno do Maurício Silva Santos e do Manuel Maurício?
SE: Sim. O Manuel Maurício era considerado o professor mais à esquerda da escola e se mostrava mais ousado em sala de aula.
Você ainda mantém contato com seus colegas do Andrews?
SE: De forma esporádica. Meu melhor amigo sempre foi Carlos Americano, que estudou comigo no Clássico. Mantivemos contato por muito tempo, mas ele se mudou para a Barra da Tijuca, o que tornou o contato mais difícil. Nunca mais vi o Denis.
Você destacaria algum aspecto da orientação educacional do Andrews?
SE: Para mim, é difícil separar a educação que recebi no Andrews da minha vida como um todo. Estudei no colégio dos seis aos 18 anos, então a experiência foi intensa e completa. É como se me pedissem para dissecar a importância da minha mãe ou do meu pai. O Andrews foi um terceiro pai para mim.
O colégio influenciou sua escolha profissional?
SE: Não, fui 100% influenciado pelo meu pai. Ele nunca me pressionou diretamente, mas sempre foi um exemplo a seguir.
Por que você escolheu matricular seus filhos no Andrews?
SE: Por força da tradição e da experiência positiva que tive lá.
Qual foi a importância do Colégio Andrews na sua vida?
SE: Total. Foi, de fato, um terceiro pai. Sempre tive muito orgulho de estudar no Andrews e de saber que meu pai também foi aluno da escola. Ele chegou a ser assistente do velho Edgar nas aulas de História.
Muitas escolas fecharam nos últimos anos. O que faz o Andrews resistir ao tempo e completar 90 anos?
SE: Muito por conta da excelência do passado. Os professores do Andrews eram nacionalmente conhecidos. Muitas vezes, quando viajava e mencionava que estudei lá, as pessoas perguntavam: “Você lembra do Maia?” Era sempre um momento de nostalgia e conexão.
Você fez vestibular em que ano e para qual faculdade?
SE: Fiz vestibular para Direito na Universidade do Estado da Guanabara (UEG), no Catete, e depois terminei o curso no Maracanã. Me formei em 1977 e segui carreira como advogado, profissão que exerço até hoje.
Muito obrigada pelo seu depoimento.

Sérgio Eskenazi
90 anos do Colégio Andrews